Um desastre aéreo sem precedentes na Índia teve um único sobrevivente — e um relato chocante. O engenheiro britânico Vishwash Kumar Ramesh, de 40 anos, escapou com vida da queda do voo 171 da Air India, ocorrido nesta semana, em Ahmedabad. Ainda hospitalizado, ele narrou os segundos de terror antes do impacto que matou todos os demais ocupantes do Boeing 787-8 Dreamliner.
“O voo decolou e, em cinco a dez segundos, parecia que estava preso no ar. As luzes começaram a piscar em verde e branco. A aeronave não ganhava altitude, só planava, até colidir com um prédio e explodir”, contou Ramesh, com os olhos marejados, a um jornal britânico.
A aeronave, segundo testemunhas e vídeos amadores, jamais ganhou impulso suficiente para uma decolagem segura. Nas imagens, é possível ver o avião flutuar lentamente antes de desaparecer atrás de uma torre, seguido por um clarão e uma densa nuvem de fumaça.
Hipóteses em análise: falha elétrica, flaps mal configurados e trem de pouso abaixado
Especialistas em aviação levantam a hipótese de falha elétrica, erro técnico ou falha humana. O trem de pouso estava visivelmente abaixado no momento da tentativa de decolagem — algo que deveria ter sido corrigido imediatamente. Além disso, há dúvidas sobre a configuração correta dos flaps, componentes que ajudam a aeronave a ganhar sustentação.
“O trem de pouso claramente estava abaixado. Isso não está correto. Deveria ter sido recolhido logo após a decolagem”, afirmou Alastair Rosenschein, ex-piloto da British Airways. “A configuração dos flaps também parecia errada. Isso pode ter causado perda de sustentação.”
Fuga milagrosa em meio a fogo e destroços
Ramesh estava no assento 11A, ao lado de uma das saídas de emergência. Após o impacto, ficou desacordado por alguns segundos e acordou cercado por destroços e chamas.
“No início, pensei que estava morto. Depois vi uma abertura na fuselagem. Desabotoei o cinto, empurrei com a perna e rastejei para fora”, relatou, ainda com a voz embargada. “Não sei como sobrevivi. Vi pessoas morrendo na minha frente. As aeromoças, duas pessoas próximas… eu saí dos escombros.”
As imagens do local sugerem que uma das saídas de emergência pode ter se soltado no momento do impacto, abrindo uma brecha que teria possibilitado a fuga do único sobrevivente.
Histórico de advertências e possível negligência da companhia aérea
O episódio reacendeu o debate sobre o histórico de manutenção da Air India. De acordo com Sanat Kaul, ex-secretário do Ministério da Aviação Civil da Índia, a Direção Geral de Aviação Civil (DGCA) já havia feito advertências formais à companhia por problemas em inspeções e manutenção.
“Questões sobre inspeções inadequadas e manutenção de linha estão agora sob novo escrutínio”, destacou Kaul.
Diante da tragédia, o governo indiano avalia suspender temporariamente todos os voos operados por Boeings 787 da Air India, enquanto uma investigação completa é conduzida. A emissora NDTV confirmou que a medida está em análise por autoridades aeronáuticas.
Comoção e solidariedade
O primeiro-ministro Narendra Modi visitou Ramesh no hospital e prometeu rigor nas investigações. O CEO da Air India, Campbell Wilson, também esteve no local do acidente.
“Estamos totalmente focados nas necessidades dos passageiros, da tripulação e de seus familiares”, afirmou Wilson, em nota oficial da companhia.
Enquanto o país lida com a dor das perdas e com as investigações em andamento, o testemunho de Vishwash Kumar Ramesh se torna um símbolo de esperança em meio aos escombros — e um alerta severo sobre os riscos de negligência na aviação civil.